UM BELO PROGRAMA- BELO HORIZONTE E OURO PRETO

Belo Horizonte - Minas Gerais também tem seus encantos: uma capital marcada pelas suas discrepâncias: entre o belo e o tosco, o possível e o improvável, eu, como sempre vou em busca do que é belo e bom - do imenso espaço cultural que há no coração de todos os lugares. E, claro com a ajuda de pessoas maravilhosas e este, traçado por Juliana, que desenhou para mim um lindo recorte do que é bom de ver e viver em BH e no seu entorno neste feriado de Corpus Christi: JULIANA , THATY E BETINHO, RAPHAEL e WALDIR, uma família linda que Deus me permitiu conviver e amar e que agradeço ter.

A Ópera Nabucco foi um momento ímpar na capital em pleno inverno. O enredo marcado por conspirações, amores não correspondidos e mais importante a conversão do rei Nabucco da Babilônia ao cristianismo. Infinitamente belo o coro dos escravos hebreus saudosos de sua pátria amada, perdida... reféns da tirania dos homens/ reféns da loucura do poder/da sede irrefreável de superioridade dos homens uns sobre os outros - breve histórico de todos os TEMPOS do homem na terra.( ver história dos professores de Minas em pleno século XXI)

O cenário belíssimo, alternando entre luzes douradas, prateadas, azuladas e de repente, a imagem pagã de um deus antigo desce lentamente para o palco numa redoma de ouro, para ser adorada pela mulher ferida pela não correspondência do seu amor. Lindo o palco sendo transformado diante dos meus olhos, e de repente, lá no III ato surgem os escravos presos nas grades cantando: (Va pensiero, sull"ali dorate, "Vai, pensamento, sobre asas douradas")E subindo e descendo com avidez estas grades e cantando esta música de liberdade; meus olhos transbordam em lágrimas...O mundo / o homem/ a História /nunca mudam...Apenas tomam outras/novas roupagens.

Mas Juliana quer transformar meus dias em doces miragens e me leva para Ouro Preto... E como é bom e gostoso estar nesta linda cidade. Com muito sol, céu limpo e muito frio. Coisas de Minas - estas singularidades: neblina e sol - Que lindo, meu Deus!

O início têm que ser no marco zero - para mim, a Praça Tiradentes- linda, grandiosa, passando inalterável pelo tempo: 300 anos, talvez mais, mas lá, com suas antigas formas/as mesmas que inspiraram ALEIJADINHO , os inconfidentes e agora eu,Waldir, Juliana e Rafa.

Vamos aos passeios, pela rua Direita, muita ladeira, sobe e desce para chegar nos monumentos e são tantos... É preciso tempo para deliciar-se nesta cidade de sonhos, arte e riquezas perdidas/riquezas guardadas que não podem ser tocadas, nem fotografadas: obras apenas para serem vistas. Passo a mão na liteira no museu dos Inconfidentes, suavemente, para sentir o tempo passando sobre mim. Logo sou repreendida. E fico a pensar nas limitações de Minas. Afinal, alguém tem que limpar tudo aquilo, com luva ou sem, a minha mão toca o impressionável- uma liteira pesada para levar duas pessoas, carregadas ladeira abaixo/ladeira acima pela antiga Vila Rica - um casal de folgados, nas costas dos escravos. Que loucura - sinto um misto de horror e pena.

O museu dos Inconfidentes me impressionou muito: não pela presença da liberdade, mas exatamente pela falta dela - em toda parte, armas, símbolos de tortura e violência e também símbolos de ostentação e poder- há lá um grande poste de madeira, usado na tortura de Tiradentes entre outras barbaridades para tortura dos escravos. Móveis ostensivos de madeira muito bem conservados enchem salas inteiras e um forte e adocicado cheiro do cedro, do jacarandá e outras madeiras "finas"tomam conta deste lugar. Há também dois lindos poemas de amor dedicados a Marília por Dirceu e por fim, uma homenagem aos revoltosos -o Panteão dos inconfidentes- lápides dos conspiradores e um local vazio - que nunca será preenchido - o corpo perdido para sempre- o de Tiradentes. LIBERTAS QUAE SERA TAMEN - idéia nunca conquistada em Minas Gerais. Está lá pregada na parede do Museu e só.

O Museu de Aleijadinho- O mais aguardado por mim - o mestre dos mestres mineiros e brasileiro - a grandiosidade deste gênio jamais comparado me espera e, que alegria revê-lo. Há música sacra no ambiente e vamos descendo para o porão escuro, de luz ténue onde estão guardados os leões de Essa. Impressionate o local- Juliana sente frio lá e começa a espirrar. Estamos só naquele lugar, apesar do museu está repleto de visitantes. De repente um mantra sagrado ressoa e naquele lugar magnífico o crucifixo mais perfeito do mundo está guardado sobre vidros: é do mestre- Aleijadinho: Jesus pregado à cruz, dentro de sua agonia e sofrimento , num lugar guardado por leões estranhos - um lugar sombrio e frio- uma câmara mortuária - deve ter sido esta a intenção - logo subimos as escadas e fiquei a pensar nas impressões que ficaram no coração de Juliana e Rafa neste dia sagrado de Corpus Christi.

Salas repletas por obras primas - muito peculiares do mestre - os reis magos retratados como homens comuns lá do vilarejo de Vila Rica . Uma réplica de um profeta e obras variadas vão surgindo - beleza e encanto - estas são palavras limitadas para descrever a obra deste homem: Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

As igrejas: visitei três - Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Igeja Nossa Senhora do Carmo e São Francisco de Assis- esta sem dúvida a mais bela - tendo sua fachada esculpida por Aleijadinho. A pintura do forro da nave da igreja, obra prima do mestre Athaíde, destacando no centro, a Assunção de Nossa Senhora sendo levada ao céu pelo coro dos anjos. Esta obra é de uma beleza tão pura, de um azul tão calmo que remetia horas de contemplação. Mas o tempo ainda não me pertence, sou mais uma serva(servidora pública) nos porões sombrios do governo de Minas.

A gastronomia mineira: que delícia: tutu à mineira com tudo dentro: linguiça, carne de porco e torresmo, regado com vinho Miolo . Tudo isto lá mesmo na praça Tiradentes. Juliana e Rafa preferiram um filé à parmegiana.

Por fim, retorno a BH, visita aos shoppings para deliciar os pratos do Restaurante Redentor /café expresso/ capuchino com chocolate que adoro e as delícias do Bolão- um restaurante simples lá de Santa Tereza.

Ser feliz deve ser algo bem próximo disto.