E a arte vence os monstros: Contra-Reforma e Capitalismo.


Duas exposições marcaram meu fim de semana: dois grandes italianos polêmicos: Caravaggio e de Chirico.

O primeiro do século XVI, época do barroco e portanto, da Contra-Reforma, momento em que a igreja católica tenta fortalecer sua ideologia no mundo,  o outro do século XX, portanto, do contexto capitalista.

Mas em ambos há muita angústia, muita resistência e muita riqueza intelectual. Sentimentos estes partilhados por todos nós em todos os tempos de opressão e miséria, marcados sempre pelas forças autoritárias e atrasadas que tem marcado a história dos homens. 

Caravaggio vive sob o domínio do poder religioso e De Chirico do capitalismo selvagem. Há muitas diferenças mas há também profundas semelhanças entre as épocas. E ambos os artistas percebem isso de uma maneira peculiar, quase intuitiva e escapam dos bloqueios impostos por suas épocas, abrindo suas próprias brechas e possibilitando assim suas expressões e impressões.

Impactante vê a Medusa Murtola de Caravaggio no escudo espelhado de Perseu( da mitologia grega) observando sua própria morte. Perseu que lutou contra a fúria do mal, das forças negativas tem sua vitória. E Caravaggio estampa de uma forma tão sutil este momento da vitória da vida sobre o monstro que é de causar calafrios. A tela está incrustada no escudo e sob ela um vidro blindado nós separa da obra petrificante .

 A ambiência do lugar, na Casa Fiat de Cultura de BH/MG também contribui para a atmosfera criada para desvendar Caravaggio. Um silêncio no meio do claro/escuro e ao mesmo tempo um furor vai varrendo meus olhos: da pobreza de São Francisco à contemplação de São Jerônimo que escreve. Um caminho que só pode ser trilhado por quem ama  a arte e a vida. Vibrei na fina sintonia de Puccini neste encontro mágico com Caravaggio.

Em seguida contemplar de Chirico e, que emoção! Todos os meus sentidos foram despertos pela ausência proposital do artista em se esconder na sua profunda solidão- construída num mundo em que os valores perderam todos os sentidos e o homem sua importância - este mesmo que vivemos - de solidão, vazios nunca preenchidos e total abandono. A aridez do perverso mundo capitalista é estampado em cada tela do artista. de Chirico refugia em seu mundo que ele chama de metafísico e denuncia e, a sua voz é algo que escapa  todas as regras pré estabelecidas. De chirico cria suas próprias regras  e foge da vilania, da cupidez e da perdição deste mundo insano, acrescentando elementos arquitetônicos na sua composição - colunas, torres, praças, monumentos e os homens surgem meio-homens, meio- estátuas, robóticos, vistos quase sempre de costas ou de muito longe. Mais ou menos isto que tentam nos transformar - meio-homens, meio-estátuas...

Pra mim este foi mais um grande encontro. Caravaggio e de Chirico, adorei!!

1 comentários:

  1. ProfEduardo Oliveira/bh disse...:

    Maravilhosa a forma de você descrever
    Caravaggio e de Chirico. Fico triste de ver e sentir que poucos apreciam as verdades , a beleza da cultura... dos sentimentos...
    Triste por perceber que cada um que por aqui passa está se distanciando do belo da verdade crudelissima...
    Realmente estão se transformando em meio_homens(mulheres) em estátuas patéticas que não lutam, gostam da realidade que ocorre em MINAS E EM TODO BRASIL,!Tornaram-se mortos-vivos...
    Atenciosamente

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Professora de história, pós - graduada em história geral pela UFMG e em Novas Tecnologias na educação pela UNIMONTES.

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