Notícias da Greve


A greve é o grito dos que não são ouvidos.”

Martin Luther King

Texto escrito pela professora Maria Ivanilde







Parafraseando Milton Nascimento, para ser educador “é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana, sempre...” Assim somos nós,educadores, que entramos unidos nessa greve e numa conjugação de esforços, demos uma aula de cidadania, coragem e obstinação à sociedade. Escrevemos mais um capítulo dessa história de luta pelos nossos direitos, enfrentando e denunciando todas as mazelas do estado; sempre de cabeça erguida diante do grande aparato do governo.


Saímos vitoriosos ou derrotados? Primeiro, é necessário entender que houve apenas uma suspensão da greve para que o governo, juntamente com uma comissão da qual o sindicato participará, tenha o prazo de vinte dias para a realização de estudo que viabilizará a modificação dos vencimentos básicos e a alteração do padrão remuneratório da carreira da educação de todos os servidores públicos da educação de Minas Gerais de modo a buscar o piso salarial nacional. Este documento será protocolado na Assembléia Legislativa em até cinco dias após o término dos trabalhos da comissão.

Todos nós imbuídos do resgate à dignidade, ao respeito o qual merecemos, não iremos recuar se for mais uma estratégia infeliz do governo para nos fazer calar. Tendo em vista que acontecerá uma nova assembléia estadual assim que a comissão concluir o que foi proposto. Estaremos alerta e continuaremos na luta porque apesar de só alguns lutarem, todos já saíram vitoriosos.

Vitoriosos por não cedermos diante de tantas retaliações feitas por este governo demagogo e insensível, dando aos nossos alunos a credibilidade de que como formadores de opiniões, não podemos nos alienar e aceitar essa ditadura imposta em Minas. E sim, fazer através da greve, uma discussão política pacífica permeada de justiça e esclarecimentos úteis a todos que muitas vezes são manipulados por uma mídia que é “ a voz dos poderosos” e não a voz do povo.

Vitoriosos sim, quando mesmo estando em greve, o governo sentou para negociar. Fato este que foi propagado de uma forma oposta “Não negocio com grevistas”, vitoriosos pela força e firmeza da diretora do sindicato Beatriz Cerqueira, que obteve durante todo o processo uma postura de coragem e não se rendeu diante das arbitrariedades das multas cobradas pela greve “ilegal”.

Ilegal é um desembargador que ganha mais de vinte mil reais mensais achar que o salário do professor ( alguns menos que o salário mínimo), congelado a mais de oito anos, seja aceito, sem indignação. “A greve é o grito dos que não são ouvidos”, nunca tivemos outras armas. A educação e a saúde são os principais discursos de candidatos. Na prática são os aspectos sociais mais desvalorizados, principalmente no tocante ao ser humano que salva vidas ou que educa e forma os cidadãos.

Somos vitoriosos, quando colocamos em uma “vitrine” todos os deputados da Assembléia Legislativa que votaram contra os trabalhadores da Educação e mostramos para a sociedade, incluindo entre estes, vários políticos do Norte de Minas, cidadãos de Montes Claros.

Vitoriosos porque vários educadores chegando ao seu limite máximo de tolerância, assim como eu, estão usando a Internet para denunciar, encorajar, informar, desmentir a publicidade enganosa que o governo de Minas faz sobre a educação, saúde e outros aspectos sociais. Para ele e seus capachos “Minas Avança”... Subestima a inteligência de educadores e cidadãos politizados, colocando uma mordaça nas redes de televisão que são compradas ou manipuladas. Já viram alguma propaganda que fale mal do governo Aécio/ Anastásia? Claro que não! Pelo contrário, dinheiro não lhe falta para empregar em anúncios maravilhosos, que só mostram uma face do seu “desgoverno”. O ser humano não existe, Minas não tem recursos para pagar bem os profissionais da educação. Todavia, investiu bilhões na construção da “Aeciolândia” (cidade administrativa), uma obra faraônica. A educação? Ninguém está nas escolas para ver a realidade, a falta de recursos, o desdobramento dos professores em duas, três escolas para conseguir sobreviverem. Mas a obra faraônica todos veem, os outros estados elogiam, quem não tem o mínimo de informação, aplaude. Minas não tem dinheiro, mas é o 2º maior estado em arrecadação. Estados com arrecadação bem menor como o Acre e o Espírito Santo, pagam o piso nacional estabelecido, ou até mais. Fazem milagre? Não.O governo tem sensibilidade e valoriza a educação.

Já ouviram falar no “CHOQUE DE GESTÃO”? Que choque é esse que oprime e tortura psicologicamente todos os profissionais de educação? Esse tão anunciado choque de gestão pode ter favorecido aos interesses políticos do governo, porque para a classe que mais trabalha e tem vital importância na sociedade, foi um choque sim, de indiferença e insensibilidade. Daí a nossa busca, pois só QUEM LUTA, EDUCA.

O grande escritor Oliver Wendell Holmes disse: ‘O mais importante na vida não é a situação em que estamos, mas a direção para a qual nos movemos”. Ainda que a vitória do piso não seja este ano, já acendemos uma grande chama para 2011, qualquer governo que assumir ( CREIO PIAMENTE QUE NÃO SEJA ANASTAZIA), já conhece claramente a nossa história , os nossos objetivos e o devido valor que exigimos.

Retornamos de cabeça erguida, pois o bom mesmo é ir à luta com determinação, viver com ousadia, pois o triunfo pertence a quem mais se atreve. Pena que muitos não se atrevem. Juntos, a nossa luta seria menos árdua e teríamos uma resposta mais imediata. Para o governo o que importa são números. Uma união em massa, aliados à força sindical alavancaria uma grande vitória, agora. Porém se faz necessário pedir a Deus “ serenidade para aceitar o que não podemos mudar, coragem para mudar o que podemos e discernimento para separar as duas coisas.”

Derrotados, jamais! Conseguimos “driblar” até o que mais nos amedrontava, o corte do pagamento. O governo foi esperto, pois a maioria dos professores em greve não iria repor, caso o salário não fosse pago. E quem perderia com isso, seriam os alunos. E cabe a cada um de nós, aliás é nosso dever, discutir política na sala de aula ( política, não partidarismo), pois a política tem como fundamento assegurar os nossos direitos e deveres. Politizá-los para que sejam críticos, ativos e participativos. E mais, que entendam a nossa luta e informem aos pais. Não vamos educar “analfabetos políticos”, não vamos fazer o jogo do governo. Ensinar para eles que “a vida sem causa é uma vida sem efeito , que ter problemas é inevitável, mas ser derrotados por eles é opcional.”

Ivanilde

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Professora de história, pós - graduada em história geral pela UFMG e em Novas Tecnologias na educação pela UNIMONTES.

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