Férias- um mergulho na capital da Paraíba.



Quem não busca beleza  morre pobre. Marly

Fui em busca da natureza divina num paraíso pouco visitado pelos turistas mas redescoberto pela viajante que ama os paraísos naturais criados pela mão suprema do criador presentes também na capital da Paraíba: João Pessoa e no seu entorno. Um passeio completo pela natureza e pela história do Brasil, tão rica, variada e marcada pelas diferenças regionais. Um continente, esse nosso país, de gente simpática, generosa, ingênua.


As praias, de uma beleza imaculada e calma- praia Bela, Coqueirinho, Tambaba....fiquei extasiada e relaxei na tranqüilidade azul, no dourado do rio Mucatu, refugiei- me na proteção dos arrecifes e canyos. Lugares calmos, embalados apenas pelo mar, vento e arrebentação das águas nos arrecifes. Longas praias, com canyos de areia que se desfazem ao menor toque - da água, do vento, uma paisagem transformada todos os dias, como se não não tivesse começo nem fim. A natureza é perfeita, pena que os homens não conseguem se reciclar dessa maneira, a maneira desenhada em cada lugar por Deus para nos dar exemplos. A impermanência, a renovação, a volubilidade.


Todos os dias um renascer diferente, um novo esboço, um ciclo que nunca se fecha completamente .... Nesta harmonia desarmônica fui afinando meus instrumentos, reorganizando minhas lentes, reconstruindo meu jeito de ver e ser. Sou um esboço que não pode ser concluído porque sou como a natureza, algo inconstante, insurgente e que recusa a ser findo.





Praia Bela é um conjunto arquitetônico perfeito da natureza, o encontro do mar com o rio e neste encontro há inúmeras diferenças e elas se estreitam e convivem , sem que uma tire a beleza ou a harmonia da outra. O vento marítimo e violento varre os canyos de areia, os maciços e o rio permanece tranquilo como um monge budista. O mar de crinas longas, altas esbarra na suavidade do rio e não consegue destruir sua calma, ele continua correndo manso, cor de cobre. Nem a cor se altera....mesmo diante da avalanche azul e branca do mar gigante. Debruçei nessa calma, onde era possível as  crianças navegarem seguras em caiaques e pranchinhas. E o mar em frente, gigante e bravo rasgando tudo. Um constranste gritante. Fui me apaixonando...




Praia Bela é mesmo bela , isolada, preservada, quase intocável. Pode-se percorrer longos caminhos de areia branquíssima e falésias coloridas completamente só ou acompanhado. Como desejar o viajante.













Para conhecer o litoral sul fui num jipe improvisado, chamado de Penélope Rosa, até o condutor usava rosa e tinha aquele jeito bem humorado, típico dos nordestinos. Foi um passeio lindo pelas falésias, com inúmeras surpresas nos seus maravilhosos mirantes. E que mirantes! De tirar o fôlego. Um pequeno canyon de escarpas muito coloridas aparece no meio da mata selvagem. uau.....e o platô Dedo de Deus  aponta Coqueirinho, uma praia tão perfeita, de difícil descrição - mas vou tentar. Coqueiros ao longo da praia servem de cobertura natural para o descanso, arrecifes protegem sua enseada que mais parece um lago, de tão calmo, ao longe, é possível ver a fúria do mar, em ondas de longas crinas, varrendo os oceano. O desenho perfeito...a pintura...ao largo o dedo de Deus contorna a longa praia, de areias brancas, um contraste até então nunca visto pela viajante.
Coqueirinho ficará sempre em meus sonhos, como um lugar perfeito e sagrado.









O nome "Dedo de Deus" foi dado por pescadores que iam até o local e diziam que tal beleza, a vista para a praia, só poderia ter sido feita pelo dedo de Deus. Verdade. O povo é sábio.

As praias urbanas sempre perdem para as selvagens, porque o homem altera de maneira desarmônica o conjunto divino- Manaira, Tambaú, Cabo branco, Bessa....fui em todas, mas a época, o inverno nordestino, comprometeu sua beleza, o mar estava agitado, de cor cinza. Mas o sol brilhou forte quase o tempo todo e o calor também no meio deste "inverno" generoso. As vezes uma chuvinha rápida marcava a estação.
















Tem lá uma praia de nudismo, Tambaba, que não ousei entrar, mas na porta deste paraíso havia uma linda e pequena enseada com piscinas naturais protegidas por arrecifes, corais e mangues. Pode-se banhar tranquilo nas lagoinhas desenhadas pelo mar caprichoso que esbarra nos arrecifes  e corais e cede. A natureza  sabe que tem encontros marcados com pequenos gigantes que fazem frente a ela e que são impossíveis de ultrapassar, por mais que tentem... Neste dia havia uma forragem  de algas de um tom avermelhado deixada ao longo da praia, como se o mar a coroasse propositalmente. Se não pode invadir deixa sua marca, seu registo, sua força. 

Um coqueiro solitário balançava  diante da fúria dos ventos num caprichoso arrecife. Quase uma afronta. A natureza é assim, resiste bravamente, mesmo diante da força avassaladora do oceano.













Não poderia deixar de ver o por do sol embalada pelo Bolero de Ravel na praia fluvial do Jacaré. O célebre saxofonista Jurandy dá o seu show, todos os dias, deslizando em sua canoa entoando a música que é o símbolo hoje da praia do jacaré. Fiquei num bar saboreando um vinho tinto com o esposo aguardando o desfechar do dia. Foi emocionante...até as lágrimas. Por fim, a Ave Maria ressoa no silêncio do dia que termina e uma imagem da santa é projetada no meio da escuridão. Lembrei da minha aldeia ....Os bares em torno do rio tem uma extensão como enormes palafitas e nessa engenhoca você se sente como nas embarcações, navegando suavemente pelo rio.








Por fim, fui visitar os monumentos  históricos da terceira cidade mais velha do Brasil- uma capital calma, arborizada, limpa.

São Francisco é uma igreja barroca, que contêm vários elementos do estado e do Brasil em seu interior. Imagens sacras do barroco se misturam aos elementos do artesanato e arte local. Um guia vai conduzindo com muito bom humor o desenrolar do tempo e da história. 


Na praça onde moram os três poderes, a homenagem ao homem mais ilustre do estado: João Pessoa. Seus restos mortais estão lá, na sede do governo e a bandeira do estado ainda homenageia este homem que foi assassinado porque se recusou a apoiar a politica já decadente da República oligárquica. EU NEGO:"apoiar a candidatura do Sr. Julio Prestes". A bandeira do estado diz tudo do seu herói: NEGO - é o seu lema.

Há também a academia de letras para homenagear os grandes do estado e imortal reina seu poeta em uma ala que conta  sua história: Augusto dos Anjos.
"A esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a crença,
Vão-se sonhos nas asas da descrença,
Voltam sonhos nas asas da esperança."



Por fim, a parte mais alta da cidade guarda o casario da praça Antenor Navarro e sua igreja. Esta se encontrava fechada. Era dia do jogo do Brasil. Que azar! Perdi de  ver o monumento e tomamos um banho de 7 a 1 para a Alemanha.

Ao voltar para casa, após 3 voos sucessivos, assisto a vitória no aeroporto de Confins( construída nas terras do tio-avô de Aécio Neves) da Argentina contra a Holanda. Torci pela Holanda no meio do burburinho dos turistas. O mundo se encontrou no Brasil naqueles dias claros do nosso brando inverno. Valeu a pena tudo .

Agora só nos resta aguardar o escândalo do "aecioporto".




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Professora de história, pós - graduada em história geral pela UFMG e em Novas Tecnologias na educação pela UNIMONTES.

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